segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Nova Gripe





A gripe suína, Influenza, H1N1, gripe A, nova gripe ou qualquer outra coisa que denomine essa nova onda de mortes que ocorrem globalmente. É dela que gostaria de falar, de forma brevíssima, hoje com os senhores.

Qual é a dessa gripe?, permita-me a expressão. Devemos temer-la realmente? Cuidado devemos cuidar, evidentemente, mas não é pânico demais? De verdade não sei, hein. Estou, de fato, perguntando.

Hoje morreram mais 6 pessoas por causa dela, em SP e Paraná. Sendo assim, SP lidera o ranking brasileiro de mortes pela nova doença.

Li em certo blog uma estória, que pode parecer boba e sem sentido, mas talvez valha a pena ler, nem que seja para pensar 'humm, não, nada a ver'. Segue:

"Em uma certa manhã, a Morte estava adentrando uma cidade. O sentinela de guarda perguntou à Morte:
-O que você veio fazer aqui?

A Morte respondeu:
-Eu vim para levar CEM pessoas.

-Isso é horrível!!! - disse o sentinela.

-É assim que é, isto é o que eu faço. - explicou a morte.

O sentinela gritou para alertar ao maior número de pessoas que ele podia na cidade sobre o plano da Morte.
Entretanto, MIL pessoas morreram durante aquele dia.

Quando a noite caiu, a Morte estava retornando, e o sentinela a perguntou:
-Você me disse que iria levar CEM pessoas, por que MIL morreram???

A Morte respondeu:
-Eu mantive minha palavra. Eu só levei CEM pessoas. A Preocupação e o Medo levaram as outras!"


Claro que devemos tomar as devidas providências, principalmente as sugeridas pela OMS e pela Secretaria da Saúde

Mais uma vez a Natureza nos mostra o quão despreparados estamos para enfrentar as coisas. A OMS já avisou: não há vacinas para todos. E vem a pergunta: quem serão os escolhidos para serem 'salvos'? A gripe não é nova. É o mesmo vírus da famosa gripe espanhola, dizem os entendidos do assunto. Descuidamos, e ele evoluiu e agora nos mata. Natureza ganha mais uma. E continuamos achando que sabemos/podemos/temos tudo.

Curaremos essa doença, temos certeza. Em breve ou a médio prazo. E aí voltaremos a prepotência. Até que a Natureza volte. E ele não costuma repetir. Vem em diferentes formas: tsunami, furacão, terremoto, doença.

E nós? Queimamos árvores, importamos/exportamos lixo, engordamos gansos para fazer patê, jogamos lixo no rio. E esperamos para mudar isso tudo. Esperamos, esperamos, esperamos, esperamos...esperamos o quê?

Bom, só coloquei uma idéia na mesa. Pense, reflita e expresse sua opinião. Aqui, no trabalho, no futebol, na cerveja com os amigos. Sobre a gripe, sobre o Sarney, sobre o Irã, sobre o Obama, sobre os ônibus fretados, sobre a vida!

Um forte abraço,


@Thiago Vendramini

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Acontecimento na USP

Primeiramente um vídeo.



Agora um pequeno texto, com a visão de um dos professores.
Prezados colegas,

Eu nunca utilizei essa lista para outro propósito que não informes sobre o que acontece no Co (transmitindo as pautas antes da reunião e depois enviando relatos). Essa lista esteve desativada desde a última reunião do Co porque o servidor na qual ela estava instalada teve problemas e, com a greve, não podia ser reparado. Dada a urgência dos atuais acontecimentos, consegui resgatar os emails e criar uma lista emergencial em outro servidor. O que os senhores lerão abaixo é um relato em primeira pessoa de um docente que vivenciou os atos de violência que aconteram poucas horas atrás na cidade universitária (e que seguem, no momento em que lhes escrevo – acabo de escutar a explosão de uma bomba). Peço perdão pelo uso desta lista para esse propósito, mas tenho certeza que os senhores perceberão a gravidade do caso.

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas). Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressõesse multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira) , autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário. Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.

Cordialmente,

Prof. Dr. Pablo Ortellado
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo

Agora, algumas notícias veiculadas em portais, cada uma com seu respectivo link.

Link com fotos do acontecimento no UOL.
Para entender (superficialmente) os motivos da greve.

Reportagem da Folha nos momentos que aconteciam as coisas.

Um breve comentário a respeito. Não tentarei ser imparcial (isso é impossível), mas apenas expor alguns pontos que pareceriam pertinentes à conversa. Antes ainda, um pequeno vídeo de 40 segundos.


Não se pode mais depois de vê-lo jogar a culpa apenas ou na polícia ou na reitora, ou em quem quer que seja. Os estudantes cometeram abusos. Não vendo os encurralados como militares, mas como homens, é inadmissível que estejam dessa maneira acuados por outros homens, com dedos apontados para suas caras, ou com gritos (quer queira quer não) contra suas pessoas. 

Ao mesmo tempo, colocar a atitude da PM como correta seria insano, pois é evidente que passaram do ponto. A manifestação pode ter extravasado em momentos, e isso a caracterizaria como uma passeata menos pacífica. Mas também não chegou ao ponto de merecer bombas de gás e balas de borracha, e ainda por um tempo tão prolongado. É inadmissível da mesma maneira que professores levem spray de pimenta.

Mas analisemos o que causou essa movimentação: cronologicamente, a demissão do diretor do SINTUSP, Claudionor Brandão; o pedido de aumento; a greve; a breve invasão da reitoria; a chegada dos policiais militares com ordem judicial de reapropriação; e a manifestação de professores e alunos quanto à presença destes na USP; a manifestação; o abuso dos estudantes; o abuso dos policiais.  Enfim, pode ser que falte algum dado no meio dessa breve lista, mas para onde quero chegar, ela está ok.

Há uma cultura esquerdista de greve presente nas frentes sindicais, bem como nos movimentos estudantis, que chegaram ao ponto da caricatura. Assistir a uma assembléia geral dos estudantes da USP é uma experiência interessante para se perceber isso. A exaltação dos estudantes, que gritam e gesticulam ao microfone como se estivessem falando do holocausto nazista (mas que muitas vezes não passam da "burocratização da educação"), as evocações inflamadas a certas atitudes marcadas (greve e paralização), e o uso indiscriminado desses meios de protesto tornam o movimento estudantil quase uma piada. Não quero que o leitor pense que estou ridicularizando as pessoas que fazem parte dele, mas sim as atitudes a que estão acostumados, partindo universalmente de uma visão estruturalista de classes de cunho marxista, que exclui da realidade humana qualquer possibilidade não-política. É esse o grande entrave a que estão colocadas essas pessoas: estão imersos nesse universo onde tudo são "segundas intenções", e se perde o contato com a realidade imanente: que estão tratando com pessoas

E que pessoas são mais valiosas que pensamentos. O outro é mais importante que minha idéia de mundo. Indivíduos, não classes. Homens que pensam por si, sentem por si. Além do grupo. Além da instituição. E espero de verdade que em algum momento se abram para perceber isso.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

De volta!

É, parece que as coisas nesse país só engrenam mesmo depois do Carnaval! Infelizmente esse blog não escapou.

Desde a última postagem muitas (muitas!) coisas aconteceram. Assunto é o que não falta: agravamento da crise, fusão Itaú-Unibanco e suas consequencias, Ronaldo no Corinthians, existência do holocausto, a brasileira 'atacada' por neonazistas, eutanásia, legalização das drogas aqui no Brasil, o castelo do nosso político, Oscar, o italiano que mama nos peitos da incompetente justiça brasileira, o anúncio da retirada das tropas americanas do Iraque, acidentes areos, a nova ortografia portuguesa, o afrouxamento da Lei Seca (como era esperado), a guerra PM x Civil, recessão da economia espanhola, a morte do individuo do Palace 2, entre outras.

Mas o que mais me chama a atenção (os senhores já perceberam que eu insito demais nisso) é que casos antigos são esquecidos. Cadê o Lindemberg? Que fim deu naquele austríaco (que nos rendeu um post) que prendeu a filha por não sei quantos anos e a estuprava? Os pais da Isabela são ou não são culpados?

Hein!?

Próximo post voltamos com a corda toda!

Viva o Carnaval! Viva o pão e o circo!

Aproveitem esse sábado maravilhoso! Mas rápido que a chuva vem aí!

Abraço senhores,

@Thiago Vendramini

sábado, 29 de novembro de 2008

Reagir ou não.

Bom dia!

Talvez a notícia nem tenha chegado ao senhor. Pois ela é uma notícia que não interessa à todos, infelizmente.

Dia 21 de novembro aconteceu um incêndio na favela Alba, perto do Aeroporto de Congonhas, aqui em São Paulo. 800 pessoas ficaram desabrigadas e havia comentários da morte de uma menina de 1 ano apenas.

Eu estive alí no sábado, dia seguinte. Participo de um projeto de alfabetização, esporte e lazer pra criançada de lá. O lugar onde utilizamos para realizar as atividades também estava servindo de base para os desabrigados. Havia alí pessoas do governo alocando o pessoal e organizando as doações que chegavam.

Estava dando minha aula pra rapazeada quando dois jovens, um homem e uma menina, me pediram informações sobre onde estavam sendo recebidas as doações. Fiz questão de acompanhá-los. No breve caminho fui puxando um papo com eles. Eles eram de Higienópolis e estavam ali para saber quantas fraldas, alimentos e outras coisas básicas o desabrigados estavam precisando. Eles iam doar o necessário. Aquilo me chamou a atenção. Queria perguntar o porquê daquilo! O que faz dois jovens num sábado, sair de Higienópolis e ir até uma favela para ver se precisavam de doação? Sem contar que logo depois caiu uma chuva nervosa. Infelizmente o caminho era breve demais e o papo não teve continuidade.

Depois de tudo terminado, no caminho de volta para minha casa, voltei a pensar nisso. E convido o senhor a pensar também.

As pessoas sentem a necessidade de fazer o bem. Pelo menos cheguei nessa conclusão. E não digo 'necessidade' pelo objetivo de manter uma imagem, status, não. Alguns colocam esse desejo em prática, outros não. Não sei como essa notícia chegou a esses jovens - e nem perguntei os nomes deles! -, porque na TV não apareceu, não! As vezes as coisas chegam até nós nos dando a oportunidade da fazer o bem. E somos livres. Podemos fingir que não vemos, ou reagir.

Esses dois reagiram. Sorte dos desabrigados. E minha! Que pude ver.

Acho interessante quando famosos fazem doações em alta escala quando acontece catástrofes mundias. Lembro que o Shumacher fez uma tremenda doação para a reconstrução dos locais atingidos pelo tsunami. Quinta-feira mesmo Guga e o Massa fizeram doações em prol dos recentes acontecimentos em Santa Catarina.

Mas não sei. Penso que é mais simples, natural e eficiênte ajudarmos quem está ao nosso redor. "Amar os pobres lá da África é fácil. O cheiro deles não chega até você.", diria um amigo meu. E faz sentido. Há tantas coisas que fazer no nosso bairro mesmo, não é?

Pra finalizar, uma historinha bem curta:

Um dia uma repórter americana quis passar um dia inteiro com Madre Teresa - não se faz necessário apresentação - para ver como era o dia-a-dia dessa mulher.
No final do dia, essa reporter surpreendiado com o cotidiano da madre, diz:
-Madre, não faria isso que a senhora faz nem por U$1 milhão!
-Filha (um sorriso terno no rosto), por U$1 milhão?? Nem eu filha, nem eu!

Um forte abraço! E um ótimo sábado! Tá um dia bonito!


@Thiago Vendramini

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fenômeno Global

Tem sido difícil para mim escrever no blog. Além do tempo, também estou com um déficit criativo. E também o fator "temas". Os sites de notícias quase só falam da crise mundial, e que me sinto muito distante desse universo para poder prosear a respeito (sou de humanas). Estava então a ponto de falar da previsão do tempo, mas aí me toquei de que havia um tema ainda não abordado: Barack Obama.

Eleito novo presidente dos Estados Unidos, Obama foi não só o homem da popularidade lá, mas também pelo resto do globo. O número de imagens dele no oriente, na europa, em capas de revistas, camisetas de não americanos, bonés, etc. é algo interessante enquanto fenômeno social. Se tem proclamado em alguns lugares que essa crise seria o fim da hegemonia americana no mundo, mas ao que parece, essa "hegemonia" está muito além da economia. Mas será esse o único motivo desse "SuperObama"? Vejamos...

A era da informação está a todo vapor, com cada vez mais recursos para a posse de informações instantânea do globo inteiro. Há também o novo meio comunicacional da blogosfera (termo bastante controverso...), onde você não mais precisa ser especialista no assunto para discorrer sobre ele (e atualmente, os japoneses mostraram que nem gente precisa ser). Através desses novos paradigmas midiáticos, o alcance da imagem de Obama foi próximo à "onipresença"! Todos que tinham pelo menos acesso à televisão conheciam esse nome e essa figura. E como se formou essa opinião sobre sua personalidade? Como Obama foi chegar ao posto de salvador do mundo? Eu aponto um dos motivos de forma bastante segura e sem medo de ofender alguém no seguinte: Obama é afro-americano.

E tenho certeza que o leitor concorda. Ele representa a minoria, representa os excluídos, e representa a mudança (inclusive usada como slogan para sua campanha). E essa força chegou a tal ponto que quando ganhou, pessoas que votaram em McCain ficaram com vergonha de o dizer, pois este ficou com a cara da burocracia estagnada e elitista do governo anterior. 

Tudo isso chama a atenção também para a questão do racismo nos Estados Unidos e no mundo, que poderia ser entendido não só como racismo, mas toda forma de discriminação, tema também usado por Obama de forma "discreta" no seu discurso da vitória. Sobre isso, seguem alguns links sobre: Neonazistas que queriam a cabeça do presidente, A inexistência do Obama Britânico, Diversidade que elegeu obama, e tendência à "tolerância racial" (essa expressão usada pelo jornal é horrível... Tolerar está no limite do expressar desgosto, o que de fato possui conotações também racistas). E mais um link bastante interessante sobre um dos piores problemas que Obama terá que enfrentar como presidente... 

Peço desculpa pela superficialidade do post. Há diversos outros fatores que influenciaram na formação da imagem do presidente, como as diferenças entre democratas e republicanos, sua origem, suas propostas, as mídias, o seu concorrente, etc., mas que, além de eu sei incapaz de tratar delas de forma satisfatória, comeriam demasiado tempo do nosso ocupado leitor.

@Eduardo Kasparevicis

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A liberdade de ver os outros

Estimados,

hoje convido-os a leitura de um texto espetacular. Pelo menos ao meu ver. O texto é de David Foster Wallace. Foi o discurso da formatura de sua turma na faculdade. Como é grande (duas páginas e meia no Word), passo o link onde a revista Piauí postou. O título do texto é "A liberdade ver os outros".

O interessante - e fundamental! - é que, aos 46 anos, ele se matou enforcando-se. E justo neste discursso ele fala sobre a morte e sobre o desespero que as pessoas passam pela vida. Mas em nenhum momento falou sobre o dele. Pelo contrário.

Enviei esse texto por e-mail a uma pessoa que amo muito (essas últimas duas palavras poderiam ser dadas com inútil ao post, mas não para mim) e ela me respondeu assim:

"Legal, Tico[um carinhoso apelido que levo há algum tempo].
Tem o grande mérito de ser um alerta para todos. Mas parece que foi mesmo um grito de desespero, de quem passou do ponto e já não podia mais voltar. O suicídio foi anunciado. A Verdade (com V maíusculo) sem a perspectiva da eternidade leva a um beco sem saída, não tem sentido que satisfassa.
Beijos"

'iQue fuerte!', diria algum espanhol.

De fato. Fortíssimo!

Desde que li esse texto, uso-o como apoio, entre outros, para um post (talvez não um post já que, pelo jeito, vai ficar um pouco extenso. Também por isso a minha demora em postar aqui no blog) sobre 'A consciência'. Lendo assim o título "A consciência" pode parecer um pouco sombrio e até assustador (haha), mas não direi nada do que o senhor não saiba.

Mas voltando ao texto de Wallace, transcrevo uma situação colocada por ele. Analisemos. É um pouco extenso, mas, por favor, leiam! Não irão se arrepender.

Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima. Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos. De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um “boa noite, volte sempre” numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal. É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares. Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal. Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim – só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão. Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu. Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.
Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação “inferno do consumidor” não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.

O bom de pegar textos assim é que eles dispensam comentários. São riquíssimos!

Para quem vive em São Paulo, como eu, não é difícil de imaginar a situação. Eu tenho a mamãe que não deixa a comida faltar, mas o termo "não tem comida na geladeira" pode ser muito bem substituido por "pegar a filha na escola", "passar na casa de um amigo para ajudá-lo a estudar", "comprar pão", "devolver o filme na locadora" e assim vai.

A todo momento somos exigidos de algum modo. Às vezes por coisas simples, outras por grandes dificuldades. O importante é jamais acharmos que somos as vítimas da história e que os outros estão conspirando contra nós.

Sempre achamos que a vida dos outros é moleza e a nossa um osso duro de roer.

Um dia um amigo meu me falou em tom de brincadeira, mas guardei a expressão: "Você só vê as pingas que eu tomo, mas meus capotes não!"

De fato. Pimenta no olho do outro é colírio!

Não tenho muito o que acrescentar ao texto do Wallace, vale a pena ler outra vez. E outra.

Um abraço!

@Thiago Vendramini

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A arte vazia

Senhores, hoje inauguramos um novo estilo de postagem aqui do blog. Agora iremos convidar, esporadicamente, alguns leitores para escrever e, de algum modo, passar uma idéia crítica para os senhores. Hoje abrimos caminho para Paulo Augusto.


Um abraço, Thiago Vendramini


Antes de mais nada, agradeço o novo espaço para discutir fatos e pensamentos aqui com vocês. Sou leitor assíduo do blog e, sendo o Thiagão leitor do meu, trocamos idéias e inspirações para tentar passar alguma coisa de relevante para nossos leitores. Então vamos lá, linguagem minimamente culta e nada de palavrões, foi o que me pediram. Pois bem, falemos de Arte então!

A 28ª Bienal de São Paulo nem bem começou (Domingo 26/10) e sua característica de “Bienal do Vazio” já foi alvo de ataque de pichadores. A notícia é do Estadão , mas resumidamente, 40 jovens entraram na exposição como visitantes comuns e picharam boa parte do 2° andar da obra de Oscar Niemeyer, que este ano se encontra vazia propositadamente. Não é a primeira vez que uma exposição artística sofre ataques dessa natureza. Liderados por Rafael Guedes Augustaitiz, ex-aluno da escola de Belas Artes de São Paulo (acaba de ser expulso), o grupo de estudantes já havia protestado em forma de piche na própria faculdade de Belas Artes e na Galeria Choque Cultural. À primeira vista, o ato de vandalismo pode chocar, porém a atitude foi aplaudida nas três vezes que o grupo agiu. Não acho que o vandalismo seja a melhor forma de protesto, mas, porque diabos tinham que deixar um andar inteiro do prédio que recebe a semana mais importante da Arte no Brasil inteiramente vazio?? Isso passa a nítida impressão que não se criam formas relevantes de expressões artísticas suficientes para esgotar a capacidade do local. Será verdade?? Será que atingimos um nível de ignorância tão assustador assim? O grupo de pichadores quer nos mostrar que não! Quer nos mostrar que a criação artística está aí inserida na sociedade e que a administração da Bienal não foi competente para descobri-la. A função da Bienal não é consolidar artistas já consagrados, é sim apresentar para os visitantes o que há de mais novo, as vertentes mais recentes das propostas de vanguarda.

Visitarei a Bienal sim, e com certeza o 2° andar será o que disponibilizarei mais interesse, não porque considere o piche uma forma bela de arte, mas porque ali está o estado bruto do protesto de todo uma comunidade artística que ainda busca seu espaço, que nada mais é (ou deveria ser) do que a idéia inicial e central da Bienal de São Paulo. Mesmo que não concorde comigo, não deixe de visitar a Bienal, é um dos poucos eventos culturais gratuitos que é divulgado aqui em São Paulo. O evento começou dia 26 de Outubro e vai até dia 6 de Dezembro, de terça a domingo das 10h até ás 22h, no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera. È um daqueles acontecimentos que desperta o interesse das pessoas a buscarem maior aproximação com a Cultura e as diversas formas de Arte (não só a cada dois anos).

Se pesquisar um pouco vai ver que São Paulo é um turbilhão de Artistas e Criadores, totalmente acessíveis o ano inteiro, apresentando trabalhos de extrema qualidade. Uma ajuda para você iniciar sua pesquisa: http://www.catracalivre.com.br/. Quase tudo de graça, espalhados por toda a cidade. E a Bienal com um andar inteiro vazio......

@Paulo Augusto