segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Moradores de rua também são gente



Talvez hoje eu esteja fugindo do tema do blog. Talvez não, pois trata-se de um fato pensado, com quisá um cafezinho para acompanhar...
Nosso co-redator, Thiago Vendramini, e colegas seus criaram um projeto bastante interessante e inusitado para lidar com o problema da exclusão social. Trata-se de sempre que deparar com um mendigo na rua, reservar alguns minutos para conversar com ele. Sim, simples assim, conversar! Instigante não? Mas onde está a grandiosidade nesse ato? Ou qualquer pequeno mérito que seja? Hum, não é difícil achar...
O indigente é visto pela sociedade como um problema. Ele é o problema. Onde podemos verificar isso é na ação de determinado prefeito de São Paulo para impedir que moradores de rua dormissem debaixo do viaduto que dá acesso à Av. Paulista vindo da Dr. Arnaldo: chapiscou o piso para tornar incômoda sua soneca. O que se tira disso daí? Que além de ser o problema, este problema é jogado de lado via medidas inconsistentes, que não apenas nada resolvem, como demonstram a desumanização a que estes homens estão sujeitos (sim! são homens!). Não são cidadãos, não têm o direito nem de permanecer onde lhes apetece (ou onde lhes sobra lugar). E o fato de não serem cidadãos e não votarem, não há planejamento algum para eles, pois não rendem votos.
Essa desumanização chega a tal ponto que não são mais atores no teatro da vida, mas mera parte do cenário, usados de forma caricaturesca ou descartados como sujeira do "stage" (afinal, mendigos não combinam com a paisagem da Av. Paulista, coração econômico do Brasil!).
Essa atitude desse grupo de jovens não é nada senão re-humanizar esses homens, dar-lhes de novo, ao menos por alguns momentos, o direito a ter uma história, uma vida, opinião, voz, sentimentos... A ser gente de novo. E, devo dizer, talvez seja isso que eles mais necessitem, pois enquanto rejeito humano, o que os impeliria de alguma forma a tentar reverter sua situação, se a sociedade a qual estão inseridos não os quer e nem ao menos notam sua presença?
Poderia contar alguns fatos que já me aconteceram u enumerar atos de vandalismo da sociedade para com estes, mas é dispensável, afinal todos já tivemos experiêcias sobre o assunto. Termino linkando algumas reportagens sobre o tema (BBC, Google Books esse eu ainda não li, mas me chamou a atenção... Talvez valha a pena, MNCMR, G1) e espero que o leitor leve-as em consideração no seu próximo café. Que este seja na presença de um amigo seu da rua, numa breve e amigável conversa.


ps.: talvez possa parecer estranho, mas encontramos diversos "tipos" (essa palavra é estranha nesse contexto... mas desculpem se meu vocabulário me limitou a essa nesse momento...) de moradores de rua, e o que o projeto engloba me parece ser o universo dos mendigos, pois há moradores de rua que são trabalhadores, ou sem-teto, e que mantêm uma vida social até certa medida.
@Eduardo Kasparevicis
Nota do Thiago: Agradeço ao Eduardo pela referêcia ao projeto, mas gostaria de deixar aqui que a idéia do projeto veio após uma conversa com meus amigos Marianna Evangelista e Peter John. Idéia que foi rapidamente comprada pela nossa colega Maria Isabel Aguiar (Bebel).
Gostaria de recomendar um vídeo de uma música do Gabriel, o Pensador que tem muito a ver com o tema. Um forte abraço, e parabéns pelo post, Dú!

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