terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pelo bem do jantar

Senhores,

eu sei que o momento é mais propício para falarmos da crise mundial, dos pacotes assinados esses dias pelos bancos europeus, pela alta do ibovespa, do segundo turno das eleições municipais, do prêmio Cervantes ganhado pelo Lula, mas, convido-os para uma notícia que, à primeira vista, nos parece irrelevante frente às outras citadas, mas que no fundo nos trará uma paz que nos é devida e que há muito tempo somos privados. Quero falar dos call-centers, o famoso telemarketing.

A nova lei, extremamente rígida mas corretamente justa, foi assinada pelo nosso presidente Luis Inácio no dia 31 de julho e passarão a valer a partir do dia 1° de dezembro para os setores de telefonia, aviação civil, energia, bancos, transportes terrestres e planos de saúde.

Um breve resuminho das mudanças (retirado da matéria do site do Estadão de hoje):
  1. Cancelamento: O consumidor deve ter a opção de cancelar imediatamente o serviço;
  2. Prazo: Qualquer demanda deve ter resposta no prazo de cinco dias úteis;
  3. Concentração: Deve haver um canal único de atendimento para todos os serviços ou pacote de serviços oferecidos;
  4. Período: O atendimento por telefone deve funcionar 24 horas, sete dias por semana;
  5. Opção: O menu eletrônico de atendimento deve dar, logo no início, a opção de falar com um atendente;
  6. Contato: Prazo máximo de 60 segundos para contato direto com um atendente.

Com certeza o senhor ou a senhora já presenciou essa cena: Todos sentamos para comer aquele jantar prerado com amor, a esposa querendo saber como foi o dia do marido, o filho contando como foi o trabalho, a caçula contando como foi o recreio na escola, aquele clima bem familiar. De repente o telefone toca. O maridão levanta e atende. O papo na mesa continua, mas logo é interrompido porque todos olham estranhados para o pai no telefone que responde nervoso ao telefone: "Não, eu não quero mais um cartão", "Eu sei, mas eu já não pagou anuidade. Sem contar que vocês falam que não pagam mas sempre vem uma taxazinha, sim!". Ou então: "Não me interessa, eu quase não faço DDD", ou "Eu já tenho mensagens grátis", "Eu não vou assinar um contrato de dois anos só para ganhar um celular novo", "Quantas vezes eu tenho que falar que não me interessa!?!?!?". E o pai desliga o telefone. Muitas vezes na cara do sujeito - que, pensaremos mais a frente, é o menos culpado da história - e volta para mesa com a cara fechada. Pronto. Na mesa não há mais diálogo. E se há, é pra xingar o operador ou a empresa. E todos querem terminar logo a comida para poderem trocar de ar, seja com a novelinha, seja com a internet.

Aquele cara não tinha direito de te ligar! De onde ele tinha seu telefone e nome? Ué, porque se foi do banco que você já tem conta, eles já deveriam saber que você já tem cartão, ou qualquer outro produto/serviço. Se foi de outro, como eles conseguiram informações?

Vamos pensar agora na pessoa do outro lado da linha. Um sujeito que está ou no Ensino Médio ou nos primeiros anos de faculdade (aqui, geralmente de ADM, Secretariado ou Economia) que, por algum motivo necessitam de um emprego rápido. Seja por necessidade de ajudar com a economia da casa, seja pelo simples fato de querer trabalhar. Ele deve trabalhar no máximo 6 horas por dia, mais do que isso ele não aguenta (considerando um operador ativo e passivo). Recebe um fixo baixo, e suas esperanças de um bom rendimento no final do mês estão na comissão das vendas. Eles trabalham com metas. Se não as alcança por dois meses seguidos, rua! Se consegue alcançá-las por um bom tempo, seu fixo aumenta 'x' e sua meta '2x'. Resumindo, quanto mais vende mais terá que vender. Algumas empresas chamam de "oportunidade para pessoas que dificilmente teriam em outros setores", outras empresas chamam - não publicamente, claro - de "mão-de-obra barata".

E por que eles sempre ligam nos horário mais incovenientes, como almoço e jantar? Porque é mais fácil de encontrar os donos da grana em casa.

E isso se tornou comum no nosso dia-a-dia. Já faz parte da nossa rotina. Até já inventamos respostas para terminar a ligação sem contranger o rapaz. "Nós acabamos de fechar com outra empresa, desculpa, viu!?!?" Até já pedimos desculpa!!!, ou "Thiago? Não existe nenhum Thiago aqui!", "Alo?, Alo?, Não estou ouvindo!", e desligamos. E é claro que se o telefone tocar de novo, não atenderemos.

Existe um video no youtube - sarcástico -,onde o comediante Fábio Porchat (além do link, segue no final do post) nos dá instruções do que fazer quando alguém te liga oferencedo um produto, ou quando você liga querendo cancelar um serviço e eles começam com aquele blá-blá-blá sem fim. Claro que não devemos nos comportar assim, afinal o cara do outro lado da linha poderia ser nós mesmos, mas vale a pena dar uma olhadinha, é muito bem elaborado.

Bom, esse foi um post mais de desabafo do que informartivo mesmo, me desculpem.

Uma ótima tarde, noite ou dia!

E permaneçam na linha que o o operador do "Abraço!" está ocupado, e não poderá estar atendendo agora......

(musiquinha).......................

Só mais alguns segundos, senhor.....

(mesma musiquinha)..........

Abraço!



@Thiago Vendramini

Um comentário:

Paulo, Gutão para os íntimos disse...

- qual o bairro sr?
- capacabana..
- qual a cidade sr?
- Shangai

hAHhahHAHahHA