terça-feira, 28 de outubro de 2008

A arte vazia

Senhores, hoje inauguramos um novo estilo de postagem aqui do blog. Agora iremos convidar, esporadicamente, alguns leitores para escrever e, de algum modo, passar uma idéia crítica para os senhores. Hoje abrimos caminho para Paulo Augusto.


Um abraço, Thiago Vendramini


Antes de mais nada, agradeço o novo espaço para discutir fatos e pensamentos aqui com vocês. Sou leitor assíduo do blog e, sendo o Thiagão leitor do meu, trocamos idéias e inspirações para tentar passar alguma coisa de relevante para nossos leitores. Então vamos lá, linguagem minimamente culta e nada de palavrões, foi o que me pediram. Pois bem, falemos de Arte então!

A 28ª Bienal de São Paulo nem bem começou (Domingo 26/10) e sua característica de “Bienal do Vazio” já foi alvo de ataque de pichadores. A notícia é do Estadão , mas resumidamente, 40 jovens entraram na exposição como visitantes comuns e picharam boa parte do 2° andar da obra de Oscar Niemeyer, que este ano se encontra vazia propositadamente. Não é a primeira vez que uma exposição artística sofre ataques dessa natureza. Liderados por Rafael Guedes Augustaitiz, ex-aluno da escola de Belas Artes de São Paulo (acaba de ser expulso), o grupo de estudantes já havia protestado em forma de piche na própria faculdade de Belas Artes e na Galeria Choque Cultural. À primeira vista, o ato de vandalismo pode chocar, porém a atitude foi aplaudida nas três vezes que o grupo agiu. Não acho que o vandalismo seja a melhor forma de protesto, mas, porque diabos tinham que deixar um andar inteiro do prédio que recebe a semana mais importante da Arte no Brasil inteiramente vazio?? Isso passa a nítida impressão que não se criam formas relevantes de expressões artísticas suficientes para esgotar a capacidade do local. Será verdade?? Será que atingimos um nível de ignorância tão assustador assim? O grupo de pichadores quer nos mostrar que não! Quer nos mostrar que a criação artística está aí inserida na sociedade e que a administração da Bienal não foi competente para descobri-la. A função da Bienal não é consolidar artistas já consagrados, é sim apresentar para os visitantes o que há de mais novo, as vertentes mais recentes das propostas de vanguarda.

Visitarei a Bienal sim, e com certeza o 2° andar será o que disponibilizarei mais interesse, não porque considere o piche uma forma bela de arte, mas porque ali está o estado bruto do protesto de todo uma comunidade artística que ainda busca seu espaço, que nada mais é (ou deveria ser) do que a idéia inicial e central da Bienal de São Paulo. Mesmo que não concorde comigo, não deixe de visitar a Bienal, é um dos poucos eventos culturais gratuitos que é divulgado aqui em São Paulo. O evento começou dia 26 de Outubro e vai até dia 6 de Dezembro, de terça a domingo das 10h até ás 22h, no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera. È um daqueles acontecimentos que desperta o interesse das pessoas a buscarem maior aproximação com a Cultura e as diversas formas de Arte (não só a cada dois anos).

Se pesquisar um pouco vai ver que São Paulo é um turbilhão de Artistas e Criadores, totalmente acessíveis o ano inteiro, apresentando trabalhos de extrema qualidade. Uma ajuda para você iniciar sua pesquisa: http://www.catracalivre.com.br/. Quase tudo de graça, espalhados por toda a cidade. E a Bienal com um andar inteiro vazio......

@Paulo Augusto

2 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

Muito interessante o post, Paulo. E essa nova área do blog irá de fato enriquecer e muito o geral da coisa.
Mas infelismente vou ter que discordar de alguns pontos, Paulo. Em especial em associar o segundo andar com a falta de o que expor. Certamente você deve ter lido alguma entrevista com o curador Ivo Mesquita dando seus motivos para tal ação, ainda mais depois da superpovoada bienal de dois anos atrás, que o catálogo foi impresso apenas esse semestre. O problema não é a produção artística brasileira ou internacional, mas sim o modo como a bienal está sendo usada para mostrar essa produção, o modo como se expõe, o formato de grande feira, o papel do curador enquanto criador de relações, enfim. Isso de certa forma acaba sendo a vanguarda da exposição, pois foge aos padrões europeus que são usados pelas bienais do mundo inteiro desde que Veneza começou com a sua. E isso irá causar certo furor pelo mundo, pois a Bienal de São Paulo é das mais importantes, quase no patamar da já mencionada Bienal de Veneza e da Documenta Kassel.
A arte constantemente se faz pensando em si mesma, e o curador aqui faz uma exposição pensando a si mesma, trazendo esse questionamento todo também para isso que você falou. A bienal deve ser para os consagrados ou para os jovens artistas? A esse respeito muita coisa foi falada nos debates pré-bienal que houveram, com os mais diversos artistas, curadores, críticos e pessoas relacionadas ao meio artístico brasileiro. Além desse ponto, foram tocados outros, como a adequação desse período de 2 anos para uma exposição, como se fazem em outros países, etc. No site da 28 bienal encontramos diversos vídeos com os debates, e que assistí-los pode trazer uma ótima elucidação sobre o assunto como um todo.
Quanto à atitude dos pixadores, penso eu que o que eles querem mais do que questionar a arte, a hierarquia na arte, a instituição que expõe como formadora de opinião, ou qualquer coisa que o valha, é chamar a atenção para si. As ações anteriores desse grupo e desse aluno são a mesma coisa. O tcc do "artista" foi invadir a Belas Artes e pichar tudo (picharam a cara de uma funcionária inclusive), mas ele não compareceu nas reuniões com seu orientador, exceto por uma, quando apresentou seu projeto, que foi pedido para ser melhor pensado. Enfim, depois, no final do ano, volta ele lá com sua galera e taca tinta em tudo... Não digo que não é arte, mas posso afirmar que é de muito mau gosto, no mínimo. O que fizeram também na galeria Choque Cultural é a mesma coisa. Criticavam a apropriação do museu da arte da rua, mas acontece que esta a tempos lutava para entrar no panorama das artes plásticas, e conseguiu com Bansky. É difícil analisar tal situação... Mas o vandalismo, o não-pacifismo dos deliquentes de certa forma deslegitima essa ação que poderia ser diferente. Quer questionar o que se produz na bienal? Seu conteúdo? Temos um exemplo muito melhor do que aconteceu em 2002, quando um estudante jornalista colocou no meio da exposição um quadro seu em certo lugar da bienal, e este permaneceu alí por semanas a fio até ser retirado. Essa atitude foi elogiada pelo curador da exposição, e é muito mais interessante do que essa pixação desse pessoal.
Outro modo de ver a coisa é do ponto de vista econômico. A bienal já não é barata de se organizar, e ainda vem um pessoal, pixa as paredes de um dos prédios mais importantes da cidade, quebra as vidraçarias, e foge impune, pela arte? e o dinheiro que será gasto para a restauração? A segurança extra contratada foi por causa deles. Ou seja, por irresponsabilidade deles, que apoiados pela ignorância da população sobre a arte contemporânea e aplaudem sua atitude, estes causaram um prejuízo enorme a uma fundação já deficiente por uma administração fraca (esse é outro motivo do vazio... o modo como a bienal é coordenada)..
Enfim, na bienal irei para ver a exposição, mas não a desolação da barbárie se apropriando de uma causa artística social para ganhar visibilidade... Abs!

Eduardo Ferreira disse...

caso haja algum interesse, postei no meu outro blog alguns links para textos sobre essa bienal. Valem ao menos uma leitura dinâmica...
http://www.digerindoarte.blogspot.com